domingo, 10 de maio de 2015

OS ANTAGONISMOS DA FORMAÇÃO DO POVO BRASILEIRO




Criando uma auto imagem do brasileiro que passava de negativa a positiva com a valorização do mestiço no Brasil. Antes tomado como inferno da deprevação sexual e da degeneração étnica, o Brasil se converteu pelas mãos de Gilberto Freyre em paraíso tropical e mestiço, em que se daria a confraternização de raças e culturas oriundas da Europa, África e América.
Gilberto Freyre apresentou em Casa Grande Senzala, defendendo: “uma concepção de raça e cultura no Brasil. Passou a negar a degeneração étnica provocada pelo cruzamento racial, combatendo a ideia de que a pobreza resultava da inferioridade biológica dos desfavorecidos. Mostrou, também, que a origem do atraso no país estava ligada ás causas sociais de alimentação e higiene”. Assim, o conteúdo de Gilberto contrariava intérpretes consagrados no Brasil que responsabilizavam o clima tropical e a população mestiça pelos problemas sociais no país. A ideia tão difundida de que teria caracterizado o Brasil como uma democracia racial precisa ser mais bem qualificada.
Ao descrever as qualidades dos portugueses em sua terra de origem, Freyre insistia em que eles já possuíam uma cultura baseada em equilíbrios entre contrários, com plasticidade suficiente para aceitar práticas de miscigenação racial e cultural. As analises históricas vem acompanhadas de referencias as fontes e seus interpretes. Chama mesmo a atenção o enorme conhecimento que Gilberto Freyre tinha da formação histórico-cultural lusitana. Foi na interpretação, na valorização de certos traços culturais e sociais, que introduziu algum viés. Embora tenha sempre se oposto ao racismo prevalente em muitos círculos.
O mesmo estilo de abordagem se desdobra para caracterizar a junção de outras raças e culturas formadoras do Brasil. Na analise da contribuição dos índios, Gilberto, uma vez mais exibe notável conhecimento das fontes históricas e da antropologia na época, também viu o processo de contato entre portugueses e indígenas como um antagonismo entre culturas atrasadas e mais desenvolvidas. Com a presença do colonizador, destrói-se o equilíbrio nas relações entre os indígenas e o meio físico, principia a degradação da raça atrasada ao contato da adiantada.
Os indígenas foram vitimas de duas influencias desagregadoras, deletérias mesmo nas palavras de Gilberto Freyre “a dos portugueses e a dos jesuítas que se anteciparam nas tentativas de europeização ao imperialismo burguês europeu. O imperialismo português – o religioso dos padres, o econômico dos colonos – se desde o primeiro contato com a cultura indígena feriu-a de morte, não foi para abatê-la de repente, com a mesma fúria dos ingleses na América do Norte: Deu-lhe tempo para perpetuar-se em várias sobrevivências uteis”.
O estilo de interconexão racial e cultural permitiu manter a cultura autóctone mais viva na brasileira. Gilberto Freyre acentuou sempre os aspectos perversos da desagregação cultural provocada pela colonização. Sua critica mais persistente e dura foi antes contra o jesuíta do que contra o colono. Não poupou palavras referindo-se á crueldade dos jesuítas.

(Casa-Grande & Senzala -  Gilberto Freyre, 1933)

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