Criando uma auto imagem do brasileiro que passava de negativa
a positiva com a valorização do mestiço no Brasil. Antes tomado como inferno da
deprevação sexual e da degeneração étnica, o Brasil se converteu pelas mãos de
Gilberto Freyre em paraíso tropical e mestiço, em que se daria a
confraternização de raças e culturas oriundas da Europa, África e América.
Gilberto Freyre apresentou em Casa Grande Senzala, defendendo: “uma
concepção de raça e cultura no Brasil. Passou a negar a degeneração étnica
provocada pelo cruzamento racial, combatendo a ideia de que a pobreza resultava
da inferioridade biológica dos desfavorecidos. Mostrou, também, que a origem do
atraso no país estava ligada ás causas sociais de alimentação e higiene”.
Assim, o conteúdo de Gilberto contrariava intérpretes consagrados no Brasil que
responsabilizavam o clima tropical e a população mestiça pelos problemas
sociais no país. A ideia tão difundida de que teria caracterizado o Brasil como
uma democracia racial precisa ser mais bem qualificada.
Ao descrever as qualidades dos portugueses em sua terra de
origem, Freyre insistia em que eles já possuíam uma cultura baseada em equilíbrios
entre contrários, com plasticidade suficiente para aceitar práticas de
miscigenação racial e cultural. As analises históricas vem acompanhadas de
referencias as fontes e seus interpretes. Chama mesmo a atenção o enorme
conhecimento que Gilberto Freyre tinha da formação histórico-cultural lusitana.
Foi na interpretação, na valorização de certos traços culturais e sociais, que
introduziu algum viés. Embora tenha sempre se oposto ao racismo prevalente em
muitos círculos.
O mesmo estilo de abordagem se desdobra para caracterizar a
junção de outras raças e culturas formadoras do Brasil. Na analise da contribuição
dos índios, Gilberto, uma vez mais exibe notável conhecimento das fontes
históricas e da antropologia na época, também viu o processo de contato entre
portugueses e indígenas como um antagonismo entre culturas atrasadas e mais
desenvolvidas. Com a presença do colonizador, destrói-se o equilíbrio nas
relações entre os indígenas e o meio físico, principia a degradação da raça
atrasada ao contato da adiantada.
Os indígenas foram vitimas de duas influencias
desagregadoras, deletérias mesmo nas palavras de Gilberto Freyre “a dos
portugueses e a dos jesuítas que se anteciparam nas tentativas de europeização
ao imperialismo burguês europeu. O imperialismo português – o religioso dos
padres, o econômico dos colonos – se desde o primeiro contato com a cultura indígena
feriu-a de morte, não foi para abatê-la de repente, com a mesma fúria dos
ingleses na América do Norte: Deu-lhe tempo para perpetuar-se em várias sobrevivências
uteis”.
O estilo de interconexão racial e cultural permitiu manter a
cultura autóctone mais viva na brasileira. Gilberto Freyre acentuou sempre os
aspectos perversos da desagregação cultural provocada pela colonização. Sua
critica mais persistente e dura foi antes contra o jesuíta do que contra o
colono. Não poupou palavras referindo-se á crueldade dos jesuítas.
(Casa-Grande & Senzala - Gilberto Freyre, 1933)
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